Casos de PolíciaComando VermelhoDenuncia
As revelações de um ex-chefe do Comando Vermelho que disse ter deixado o crime: suposta extorsão de R$ 500 mil, ameaça de policiais, vários convites para voltar ao tráfico, salário alto (R$ 15 mil) para dar palestras para ONG, conversa com um líder do TCP, vida infernal na cadeia

Ex-chefe do tráfico em favelas do Comando Vermelho contou em depoimento à Justiça em um processo criminal de 2017 em que foi absolvido no ano passado que policiais já teriam lhe pedido R$ 500 mil para não colocá-lo em outros processos. Ele fez outras revelações impactantes. Disse que não pagou porque na ocasião já estava vinculado a uma ONG que age em comunidades carentes do Rio de Janeiro. Falou ter informado sobre a suposta extorsão a um integrante do Judiciário que teria levado o caso ao corregedor. Teria sido ameaçado por policiais e foi orientado a parar com denúncias. Após sair da prisão, disse que não voltou mais para o crime e o pessoal do tráfico chegou a lhe abordar mas quando descobriram quem era, lhe dispensaram.. O fato teria chegado ao conhecimento de policiais que concluíram que ele ainda tinha influência no tráfico de drogas. Os agentes, segundo ele, queriam conversar mas o ex-chefão do crime disse que não daria mais nada. O policial teria lhe ameaçado dizendo que se o denunciasse e ele perdesse a função iria para milícia e mataria a sua família. O ex-chefão disse que recebeu convites de traficantes da Rocinha, do Alemão e outras comunidades, mas nunca aceitou.Sua última prisão foi em Itaboraí. Ficou oito anos e nove meses em penitenciária federal. Contou que o ´Comando Vermelho´ não proíbe as pessoas de sair do movimento do tráfico. Disse que deixou a vida criminosa em 2014, quando sua mãe foi diagnosticada com leucemia; que ama sua família; que não é de comunidade; que estudou em boas escolas; que sua mãe era professora e seu pai contador; que durante o período de prisão estudou, fez cursos e chegou a passar no ENEM, não ingressando na faculdade porque foi posto em liberdade; que não mudou de Estado, apesar dos conselhos, por falta de condições financeiras.Falou que gostaria de deixar o país; que esteve preso de janeiro/1998 a 2008, mas ficou solto entre janeiro/2008 e janeiro/2009; que a vontade de largar o crime começou em 2008; que para Santa Catarina, mas de lá foi levado para o presídio de Mossoró; que conversou com as lideranças da facção e relatou que deixaria o mundo do crime, as quais não o impediram; que aceitou Jesus na mesma época em que sua mãe teve leucemia; que seus familiares o apoiaram; que a polícia o persegue implacavelmente; que quando sua pena foi comutada, outros presos chegaram a ameaçá-lo, dizendo que se voltasse para o presídio mereceria uma surra; que além de ter sido traficante, também assaltou bancos, mas nunca cometeu crime contra a vida; que chegou a ser o ´dono´ de comunidades no período de 1992 a 2008; que mesmo preso foi contemplado com o outro morro passando a ser o ´dono do tráfico´ de lá; Mesmo tendo ficado muitos anos na prisão e afastado das comunidades, muitos traficantes mais novos citam o seu nome sem nem mesmo o conhecer pessoalmente.Contou que que seu salário já foi de R$15.000,00, porque dava muitas palestras, mas hoje em dia diminuíram por causa dos processos atuais relativos a fatos antigos, e é de R$5.000,00; que há emissão de nota fiscal para todos trabalhos que faz; que tem diversos projetos muito importantes em andamento. Chegou a ser convidado por um traficante do Terceiro Comando Puro (TCP) para levar a ONG para uma comunidade da facção mas recusou por medo de ter problemas.Disse também que a polícia investigou um suposto acordo entre traficantes e a ONG objetivando o acesso de motoboys da organização, o que fez com que comparecesse a delegacia para esclarecer os fatos, sendo o procedimento arquivado. Ele revelou que o regime de segurança nos presídios federais é complexo/terrível; que estes foi um dos motivos que o levou a abandonar a vida criminosa; que as visitas dos advogados são monitoradas, as cartas são censuradas e xerocadas; que os familiares são revistados na entrada e saída da penitenciária; que os presos são revistados nus; que no ´estatuto´ do ´Comando Vermelho´ ninguém pode continuar no tráfico se ostentar uma vida lícita, pois não podem ficar numa ´boa vida´ enquanto os ´parceiros´ morrem; que sua família o ajuda a complementar o salário que recebe da ONG. Segundo ele, Marcinho VP o mencionou em um livro como um criminoso que conseguiu mudar de vida; que chegou a conversar com um secretário da SEAP sobre a promoção de cursos nas penitenciárias; que nos presídios há muita tuberculose, não há remédios e nem aparelhos para aferir pressão; que está numa galeria idealizada para 64 detentos, mas há 156, sem perspectivas de nada |