Autos revelam últimos momentos de major dos bombeiros antes de ser assassinado por traficantes. Vítima falou pela última vez com colega da corporação com quem combinou de mandar fotos suspeitas mas criminosos descobriram e receberam as imagens

Autos do processo que vai julgar os acusados do assassinato do bombeiro militar Wagner Luiz Melo Bonin revelam os últimos momentos da vítima com vida.
Uma testemunha contou no dia 16 de novembro, de 2022 por volta das 15h30, o major saiu de casa com o intuito de comprar material elétrico para que finalizasse um serviço doméstico, sendo necessário comprá-lo numa loja no centro de São João de Meriti, distando cerca de 3km de sua residência.
Que Wagner informou que não demoraria, pois teria uma aula “online” ainda naquela tarde. O deslocamento para que saísse de sua residência passava por “barricadas” construídas pelo tráfico de drogas, cuja construção dificulta bastante a passagem de veículos, o que deixava o bombeiro mais indignado .
Cerca de uma hora após a saída de Wagner, a depoente mandou uma mensagem para o seu telefone via aplicativo Whatsapp, não havendo resposta por parte do mesmo. Embora não respondesse à depoente, observou que o whatsapp de Wagner estava online.
Por volta das 16h40 a testemunha saiu de casa e se dirigiu para a academia, juntamente com sua filha, tendo passado pelas tradicionais barreiras já mencionadas, tendo sido obrigada a parar diante de uma delas para que retirasse duas barras de ferro que impediam a sua passagem.
Neste exato momento, a depoente verbalizou sua insatisfação diante da dificuldade da retirada dos tais ferros, quando uma senhora de cabelos brancos (não identificada) lhe disse; “…fica quieta, tá quente aqui…”.
A testemunha não conseguiu entender com precisão o que lhe foi dito, mas percebeu que se tratava de um alerta para que não falasse alto sobre aquela situação.
Por volta das 17h50, a depoente ligou o computador e conseguiu acessar o Whatsapp Web do número de Wagner e pôde perceber uma conversa dele com um amigo também militar do CBMERJ c
O conteúdo dessa conversa se referia ao repasse de informações de Wagmer sobre o tráfico de São Matheus, inclusive o bombeiro dizia que lá havia um traficantes armado com fuzil nas proximidades onde a depoente reside.
O amigo pediu que Wagner enviasse fotos da região onde estavam esses traficantes portando fuzil, sendo que o major chegou a tirar algumas fotos da localidade, porém não foram enviadas para seu solicitante, conforme a depoente conseguiu visualizar nas conversas.
Após essa conversa, a testemunha percebeu que as fotos tiradas por Wagner foram enviadas por meio do telefone dele para um outro número de whatsapp, cuja foto do perfil do usuário era desconhecido (dois jovens numa única foto de usuário), o que causou bastante estranheza à depoente, pois tal número de celular, além de não constar na agenda do bombeiro, possuía uma foto de dois jovens estranhos.
Diante disso, a depoente entrou em contato com seu primo que é policial militar, para explicar o acontecido e pedir ajuda, o que foi prontamente atendida;
A declarante ficou desesperada com o sumiço de Wagner além do fato dele não atender suas ligações. Além desse primo policial, a depoente também efetuou uma ligação para o comandante de Wagner,
Somente por volta das 23h45 a declarante tomou conhecimento que o carro em que Wagner tinha saído fora encontrado no Parque Colúmbia, bairro da Pavuna, contendo um corpo carbonizado em seu interior.
Perguntado se as fotos enviadas através do telefone celular de Wagner ficam perto de sua residência, respondeu que sim, a aproximadamente três ruas.
Perguntada se já viu alguma vez algum dos dois jovens que aparecem na foto de perfil do whatsapp cujas fotos foram enviadas, respondeu que nunca os viu.
Ela esclareceu que os pontos fotografados pelo bombeiro foram Rua Antônio Hermont esquina com a Rua Antônio Alves da Costa, Rua Francisco de Assis esquina com a Rua Ana Lima, Rua Francisco de Assis equina com a Rua Taques Bittencourt, Rua Francisco de Assis esquina com a Rua Antônio Martins de Oliveira e Rua Francisco de Assis próximo à Rua Edith Siqueira (em frente a Padaria do Bala).
Um policial civil da CORE disse que, encontrava-se de plantão quando recebeu determinação para se deslocar, juntamente com os seus colegas de serviço, para São João do Meriti, até uma localidade conhecida como São Mateus; Que receberam informações dando conta de que um bombeiro militar, havia sido sequestrado por traficantes daquela região por ter sido flagrado tirando fotografias de barricadas colocadas no local pelo tráfico de drogas;
As informações davam conta, ainda, que a esposa e os colegas de trabalho do bombeiro militar estavam desesperados porque ele não respondia as mensagens e nem as chamadas para o seu telefone; O veículo da vítima seria um GM/Astra, cor Prata.
A orientação era para que realizassem diligências com objetivo de localizar a vítima e o seu veículo, e que sabiam da gravidade da ocorrência e que as ações se tratavam, na verdade, de uma luta contra o tempo;
Durante as diligências realizadas, mais especificamente na Rua Maria Bitencourt Rodrigues foram surpreendidos por um grupo de indivíduos em motocicletas que empreenderam fuga, ao perceberem a aproximação dos policiais; Os suspeitos deixaram cair um aparelho celular Marca Samsung na cor azul; que junto ao celular caído havia um comprovante de votação;
Os agentes deram continuidade à diligência e iniciaram buscas para localizar os indivíduos, quando verificaram um imóvel, com as portas abertas, com drogas prontas para venda e visivelmente expostas; Que nesse local também localizaram uma carteira contendo documento de Habilitação, cartão de crédito e cartão de seguro da vítima; que também foi achado a carteira de habilitação da mulher do bombeiro.
Que durante as diligências foram informados que o veículo da vítima já havia sido localizado em uma favela conhecida como Parque Columbia, nas imediações do Chapadão, na Pavuna, com um corpo carbonizado em seu interior; Que receberam determinação para reunir todos os elementos encontrados durante as diligências e se deslocarem para a Delegacia de Homicídios da Capital para contribuir com as investigações.