Chefão do PCC preso em Moçambique usava até o porto do Rio para escoar cocaína para a Europa e África

O traficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, usava o Rio de Janeiro como rota de envio de drogas para a Europa e África. Ele foi preso na última segunda-feira (13) em Moçambique.
O bandido utilizava contêiners nos portos de Santos, Fortaleza, Suape (PE) Itajaí (SC) e Rio e veleiros no Nordeste para enviar cocaína para outros continentes.
Fuminho viveu mais de dez anos na Bolívia. Estabeleceu-se na região de Santa Cruz de la Sierra, onde organizou um cartel, o primeiro chefiado por um brasileiro .
Aliança com máfia calabresa
Da Bolívia, ele enviava drogas e armas para o PCC. Teria aliança com a à N’Drangheta, a máfia calabresa, para abastecer a Europa.
Em 2016, um veleiro enviado da Bahia por Fuminho foi apreendido pela Diretoria Antimáfia da Itália ao se aproximar de Gioia Tauro, o gigantesco porto de contêiners da Calábria, no sul da Itália. Arrastava 500 quilos de cocaína em uma rede embaixo do casco. (…)
Morte de antigos aliados e descarte cinematográfico dos corpos
Para a polícia, além de mandar matar os líderes do PCC Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, em fevereiro, no Ceará, Fuminho foi o mandante do assassinato de Eduardo Ferreira da Silva, também em fevereiro, no Tatuapé, zona leste da capital paulista. Silva estava em uma Mercedes quando foi cercado por três pistoleiros encapuzados. Ele era o responsável pela escolta na mulher de Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola e era suspeito de desviar dinheiro da facção.
O descarte de corpos de Gegê e Paca foi cinematográfico. Os bandidos usaram um helicóptero para atirar os cadáveres em uma mata. Os suspeitos atearam fogo nos restos mortais dos antigos comparsas mas, como choveu, as chamas se apagaram e os corpos encontrados.
Na época das mortes, circulou um boato de que o PCC teria distribuído um Salve aos seus integrantes afirmando que houve uma covardia e que foi uma atitude isolada e que faria represálias.
“Mataram nossos irmãos sem o consentimento da Sintonia Final, passando por cima de nossa hierarquia. Essa atitude covarde não passará batida. Todos envolvidos serão cobrados à altura. Já cobramos ao Cabeludo com pena de morte e agora vamos cobrar ao Fuminho”.
Plano de resgate audacioso
Fuminho teria gasto dezenas de milhões de dólares em um plano de resgate de integrantes do PCC na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, em Presidente Venceslau (SP), entre eles o próprio Marcola. Foi investido dinheiro na compra de veículos blindados, logística, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal.
Fuminho quase foi preso em 2013 em Piracicaba. Na ocasião, a polícia procurava por suspeitos de ligação com o PCC e um agente teria lhe visto passar a chave de um caminhão tanque para um comparsa. Na mesma época, foi estourado um bunker com uma grande quantidade de drogas.
No mesmo ano, a polícia encontrou um grande arsenal que pertenceria a Fuminho que continha seis fuzis, três submetralhadoras, quatro carabinas, oito revólveres, um rifle, 11 pistolas, uma garrucha e uma espingarda, além de 450 kg de cocaína e 8,3 kg de maconha em Itapecerica da Serra.

Policiais militares envolvidos
No ano passado, uma investigação apontou que 54 policiais militares do 22º Batalhão (zona sul de SP) presos na Operação Ubirajara trabalhavam para uma quadrilha ligada a Fuminho.
O MPE apurou que os PMs exigiam dos traficantes pagamentos periódicos – semanal ou quinzenal – para não reprimir o tráfico de drogas. Os pagamentos eram feitos de acordo com a patente dos policiais e variavam de R$ 300,00 a R$ 50.000,00.
A relação dos policiais militares com o PCC era tão aprofundada que alguns passaram a efetivamente integrar a organização e a exercer as suas funções para favorecer o grupo criminoso.
Os policiais, além de não passarem de viatura policial próximo aos pontos de venda, informavam acerca de alguma operação policial pelo local e até mesmo alteravam a verdade em documentos públicos para que não ocorresse apreensão de droga ou a prisão dos traficantes”.
O pagamento era feito pessoalmente ao corrupto ou por interposta pessoa, quando apenas um da equipe fazia contato com o traficante negociando a propina de todos os demais policiais.