CONFIRA DETALHES DA INVESTIGAÇÃO E DE UMA DAS MATANÇAS PROMOVIDAS POR PMS ACUSADOS DE MAIS DE 20 HOMICÍDIOS NO MATO GROSSO. CASO SERÁ TEMA NO FANTÁSTICO DE HOJE

O InformeAgora teve acesso a trechos da investigação da Operação Simulacrum que resultou em mandados de prisão contra 81 PMs de Mato Grosso supostamente envolvidos em 24 homicídios com evidentes características de execução, além da tentativa de homicídio de, pelo menos, outras quatro vítimas, sobreviventes. O caso vai ser tema de reportagem do Fantástico neste domingo.
Os indivíduos assassinados iriam supostamente iriam praticar delito patrimonial e foram interceptados pelos PMs, ocasiões em que alguns foram mortos e outros conseguiram sobreviver.
Segundo investigações, os indícios de execução foram o excessivo número de disparos efetuados pelos agentes públicols; ausência de disparos na direção oposta; inexistência de lesões de defesa nas vítimas caracterização de “tiro encostado”.
Também chamou a atenção o fato de sempre haver a figura de um “segurança/vigilante” quem passava informações de locais fáceis e lucrativos para a prática de assaltos, porém, os indivíduos cooptados eram interceptados e mortos por PMs, os quais alegam que haviam recebido informações anônimas sobre os supostos assaltos e planejaram a abordagem, momento em que entraram em “confronto” com os criminosos, agindo em legítima defesa.
No decorrer das investigações restou apurado que o suposto segurança que cooptava tais indivíduos para os supostos assaltos é um informante da polícia R.
Interrogado, ele confessou ser o “segurança/vigilante”, afirmando que os supostos assaltos eram “armados” em conjunto com policiais militares, visando atrair pessoas com passagens criminais ou não, para serem executadas sumariamente.
R confessou que transitava bem entre os criminosos e auxiliava nas suas prisões em troca de dinheiro e/ou bens apreendidos, como aparelhos celulares.
Entretanto, em dado momento a finalidade dessa parceria começou a mudar, pois em vez de prender criminosos ele e os policiais militares passaram a objetivar a matança de supostos bandidos, como forma de promover o nome e o batalhão dos PMs envolvidos.
As execuções de possíveis criminosos serviriam para recompensar os militares com produtividade no âmbito funcional.
Segundo os autos, os PMs envolvidos possuíam acesso aos sistemas de informações e checagens da Secretaria de Segurança Pública, através dos quais eles obtinham informações sobre eventuais alvos, ocorrências, monitoramento eletrônico, etc, e assim poderiam utilizar o aparato estatal para selecionar vítimas com eventuais passagens criminosas para ser executadas, o que necessita ser obstado.
Os suspeitos integravam unidades como a ROTAM, o BOPE e a Força Tática CR1 da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso,
UMA DAS AÇÕES DEIXOU SEIS MORTOS. VEJA COMO FOI
Só no dia 29/07/2020 foram mortos André Felippe de Oliveira Silva, Gabriel de Paula Bueno, Jhon Dewyd Bonifácio de Lima, Leonardo Vinycius de Moraes Alves, Oacy da Silva Taques Neto, Willian Dhiego Ribeiro Moraes na Avenida “A”
(não pavimentada), também denominada Rua Júlio Verne, próximo à Rua 1, região de chácaras
Recanto das Seriemas, Bairro Itamaraty, fundos do Condomínio Belvedere, em Cuiabá.
Segundo os autos, os PMs receberam informações de que suspeitos iriam praticar um roubo nas imediações do Condomínio.
Ao chegarem no local os suspeitos do roubo, que estavam num veículo Toyota Corolla, cor cinza,blindado, ao avistarem a viatura passaram a atirar, instalando um confronto com os policiais, os
quais revidaram os disparos para repelir a injusta agressão.
Afirmaram, ainda, que após os disparos localizaram três indivíduos alvejados no interior do veículo Toyota Corolla e mais dois no veículo Fiat Uno, cor cinza, todos armados, enquanto um outro suspeito evadiu na mata.
Localizaram também um sexto indivíduo baleado, o qual foi trazido para a estrada onde a equipe do SAMU se fazia presente, porém, constataram que ele já estava sem vida.
De acordo com a dinâmica do crime, André Felipe foi morto no interior do veículo; a vítima Leonardo, passageiro do banco traseiro, tentou fugir, mas ficou com os pés presos entre os bancos, momento em que caiu e foi alvejado e morto por um disparo de entrada embaixo do queixo; a vítima Jhon Dewyd tentou correr e foi alvejado por disparos que transfixaram o coração e provocou lesão profunda na perna, vindo a óbito instantaneamente.
O Laudo Pericial de Local do Crime e Laudo Balístico demonstraram que os veículos Toyota Corolla e Fiat Uno apresentaram quase 200 (duzentas) perfurações de entrada em sua superfície – 115 no Corolla e 82 no Fiat Uno – enquanto as viaturas do BOPE não foram alvejadas por nenhum disparo.
Não obstante, ao chegar no local a perícia encontrou apenas 61 estojos de munição, havendo indícios de que os representados alteraram a cena do crime, em evidente fraude processual,
recolhendo grande parte dos estojos de munição, retirando o colete à prova de balas de uma das vítimas, etc.
Os investigadores também detectaram contradições e obscuridades em relação às armas acauteladas pelos PMs, no dia do crime, quanto as viaturas utilizadas, bem como nas versões apresentadas pelos militares em seus interrogatórios.
RELATOS DE SOBREVIVENTES
Uma das vítimas sobreviventes relatou que um mês e meio antes dos fatos ele foi convidado pela vítima Jhon Dewyd
Bonifácio de Lima para fazer uma “fita” em uma chácara localizada atrás do Condomínio Belvedere, alegando que um rapaz conhecido dele, que era segurança de um político proprietário da chácara, passou a informação de que no local havia expressiva quantidade de dinheiro, ouro, joias e pedras preciosas, tudo oriundo de corrupção.
Segundo Rogério, quem se encontrou com o tal segurança foram as vítimas Willian Dhiego, vulgo “Pitter”, Jhon Dewyd e Gabriel, mas era Jhon Dewyd quem falava com o “segurança” por meio do whatsapp.
A testemunha declarou que no dia dos fatos as vítimas seguiam nos veículos Corolla e Fiat Uno e por volta das 05h encontraram com o tal “segurança” que os aguardava em um veículo FOX VERMELHO, oportunidade em que ele somente disse: “segue eu”.
Todos estavam com aparelhos celulares. Willian Dhiego (Pitter) era o motorista do Corolla e portava uma pistola; Oacy Taques também estava portando uma pistola; Gabriel Bueno, um revólver calibre 38. Os demais ocupavam o Fiat Uno, mas nenhum portava arma de fogo, pois a função deles era transportar os objetos que iriam subtrair na chácara.
Afirmou ainda que quando entraram na “estrada de chão” o Fox vermelho acelerou e foi embora, sendo todos surpreendidos por rajadas, muitos tiros, aparentando ser tiro de “12”.
Em decorrência, foi atingido por um disparo no dedo da mão direita e por estilhaços na mão esquerda e nos dois joelhos.
Afirma também que não houve nenhuma ordem de parada por parte dos policiais, muito pelo contrário, já se depararam com os disparos.
O outro sobrevivente confirmou a versão do primeiro, acrescentando que quando chegaram na estrada de chão o motorista do Fox ligou pedindo para os veículos ficaram mais próximos um do outro. Logo em seguida o motorista do
Fox, que seguia bem próximo, acelerou e foi embora, momento em que iniciaram os disparos sem eles saberem de onde estavam partindo.
Também confirmou que não houve qualquer ordem de parada e que todos estavam com aparelho celular. Porém, a exceção do celular da vítima Leonardo Vinycius, nenhum outro aparelho celular foi apreendido e vinculado ao boletim de ocorrência.
Ademais, através da quebra de sigilo telefônico foi possível verificar que na madrugada dos fatos as vítimas utilizaram seus celulares por diversas vezes, se comunicando com terceiras pessoas por meio do aplicativo WhatsApp, o que confirma a versão dos sobreviventes.
O QUE DISSE O COLABORADOR DO BANDO SOBRE O FATO
Interrogado, o segurança/vigilante R afirmou que este crime foi previamente acertado entre ele e os PMs. Tratava-se de “flagrante preparado”, cujo intuito era matar os suspeitos, e
sua função era “arregimentar bandidos interessados em cometerem roubo”, como de fato ocorreu.
Para tanto R afirmou que através de terceira pessoa conseguiu o contato da vítima Jhon Dewyd e com ele se encontrou pessoalmente na véspera do fato, por volta de 09h, próximo ao Ginásio Verdinho, Bairro CPA, em Cuiabá, onde o convidou para uma “fita”, dizendo que o roubo seria numa chácara de um político, onde teria elevada quantia em dinheiro, joias e armas.
Ficou combinado que Jhon Dewyd conseguiria armas de fogo e vários comparsas para a prática do assalto, o que logo em seguida foi confirmado por Jhon, através de fotos das armas que foram enviadas no Whatsapp de R.
No dia do crime R se encontrou com as vítimas, que estavam num Corolla e num Fiat Uno, e seguiram em direção à suposta chácara.
R afirma que logo pegou uma estrada de chão naregião do Condomínio Belvedere, mas chegando próximo da rua de asfalto, com o seu veículo VW Fox vermelho, deixou as vítimas para trás e já escutou os disparos de arma de fogo.
R revelou que na estrada de chão não havia nenhuma viatura do BOPE e a orientação de dois PMs foi que no instante em que chegasse naquele ponto era para acelerar e não olhar para trás.
No dia seguinte R afirma ter recebido de dois policiais recompensa em dinheiro e dois aparelhos celulares.
Ainda segundo os autos, esses dois PMs eram os responsáveis pela gestão e planejamento dos homicídios, organizando a logística para as execuções sumárias nos locais previamente ajustados com o informante.
]
Também há informação de que na data dos fatos esses agentes acautelaram fuzis e grande quantidade de munições, apesar de estarem lotados no setor de inteligência do BOPE.
Outros oito PMs eram os encarregados da emboscada e pela execução das vítimas.