Coronel da PM teria agendado encontro entre contraventor e oficial de batalhão para tratar de permissão para que bingo funcionasse em Cascadura. Veja escutas que revelam a trama

Uma mulher que integrava a máfia de jogos de azar alvo de operação do MPRJ na semana passada realizava a intermediação entre os denunciados e oficiais da Polícia Militar, ajustando encontros entre ambas as partes onde seriam tratados assuntos relacionados à liberação de estabelecimentos explorados pela organização criminosa e realizado, consequentemente, o acerto de valores para a citada liberação.
Um membro do bando acionou a suspeita a fim de interceder junto a oficiais da Polícia Militar, especificamente um major do 9º Batalhão (Rocha Miranda) para que este permitisse o funcionamento do Bingo Nova Cascadura.
A denunciada enviou mensagens ao oficial da PMERJ solicitando um encontro deste com Nassar. Ela se identificou como amiga de um coronel e um outro major da corporação relatando que já tiveram contato quando o major esteve lotado no 18º BPM.
O oficial indagou qual seria a demanda e a mulher relatou que o assunto teria que ser tratado pessoalmente, aduzindo, contudo, que o nome do amigo é Nassar ou Júnior e que seria na área de atuação do major, que disse que estava no 9º BPM diariamente.
A mulher e Nassar falaram em conversa que esse major havia determinado o fechamento do bingo e havia o temor de que Nassar fosse preso durante a conversa com o oficial. Foi dito que o coronel iria interceder para que o encontro acontecesse.
NASSAR: ´Tá bom, meu amor, eu só te agradeço! Eu tava conversando com meu sócio. Entenda bem, qual é a nossa preocupação: ele não recebeu ninguém para falar sobre isso, né? Ai meu sócio levantou a bola de de repente ele não fazer uma covardia, alguma coisa assim, eu vou lá conversar com ele sobre isso, vai que ele tá no pedido de alguém, alguma coisa assim, me dá uma voz de prisão, alguma coisa. O que você acha? Ele é desse jeito ou o amigo aí dá uma ligada para ele para dizer que eu sou muito amigo. Que que você acha?´
MULHER: ´Parceiro, olha só, ele não vai te dar voz de prisão. Pode ficar tranquilo que ele não vai te dar voz de prisão. Você tá indo lá, porra, como meu amigo. Porra ele sabe que eu sou amiga do coronel, sou amiga do major, entendeu? Não vai te dar voz de prisão. Cara, o máximo que ele vai dizer para você que, porra, que, o não. O não você já tem, entendeu. Ele não vai te dar voz de prisão. Por isso que eu falei: é papo você e ele, vocês dois, só vocês dois. Não vai ter voz de prisão. Até porque não tem o porquê de te dar voz de prisão cara, entendeu. Não tem essa´.
A mulher ainda encaminhou a Nassar mensagem de áudio que enviou para o major amigo seu. Nesta mensagem há indicativo de que o oficial do 9º BPM teria mandado fechar os estabelecimentos da organização criminosa em Cascadura e, por isso, Nassar teria buscado o auxílio de dela.
Por sua vez, a mulher disse ao major amigo que Nassar seria contraventor, solicitando, que o conhecido faça contato com o oficial do 9º BPM para que este recebesse Nassar:
MULHER: ´Parceiro, outra coisa, eu consegui falar com o oficial do 9º BPM, entendeu? O Júnior vai lá para falar com ele, que é uma parada que tá lá na, é lá na área dele lá, entendeu? Do Júnior lá. Que porra, que ele mandou fechar aquela porra toda, o cara tem mais de 600 empregados. Eu só queria que você fizesse um favor aqui para tua amiga. Porque esse cara é, porra, irmãozão meu, irmãozão. Porque o Júnior marcou de ir lá para falar com ele na segunda 8 horas da manhã. Aí o Júnior tá com medo dele dar voz de prisão para ele, entendeu? Porque o Júnior é contraventor, porra! Aí ele tá com medo dele dar voz de prisão. Ele tá com WhatsApp, aquele telefone que você me passou, tá com WhatsApp ligado, na boa, tá? Eu queria só que, de repente, se você pudesse, dar uma ligada, mandar mensagem para ele, só para dizer, só para atender a ele na boa, que, porra, é meu irmão, é meu irmãozão, porra, é parceiraço, entendeu? E ele que tá me ajudando para caralho aqui também, tá me ajudando muito aqui, entendeu? Mas, eu to dizendo, ele tá é com medo de, porra, de chegar lá e, porra, o cara dar voz de prisão para ele, que ele quer, porra, ver se o cara, porra, não fecha o negócio dele lá, aquela porra toda, aquela merda que a gente já sabe, entendeu? Mas, porra, tá tudo direitinho lá, tá tudo direitinho lá naquele troço lá, mas como o major é novo lá na área, aquele troço todo, mas, porra, irmãozaço, cara, irmãozaço. Ele tá apavorado lá. Se você puder, porra, falar só com o Eriberto que, porra, que é irmãozão meu, amigo meu, eu falei até com ele no WhatsApp: ´olha só, cara, eu me responsabilizo, é Irmãozão, porra´. Vai ser bom para caralho, para tudo´.
A propósito, os dados produzidos conferem justas suspeitas de que o encontro de Nassar com o oficial do 9º BPM agendado pela mulher, contou com a conivência de um major e um coronel.
Há fotos que conferem indicativos de que o encontro ocorreu.