Escutas mostraram um pouco como era a relação da quadrilha de venda ilegal de cigarros ‘Banca da Grande Rio’ com a contravenção, tráfico e milícia. Colaborador premiado revelou detalhes como foi a abordagem que o levou a ficar refém do bando

O comerciante que denunciou à polícia a forma de atuação da quadrilha conhecida como ‘Banca da Grande Rio’ responsável por venda ilegal de cigarros e que foi alvo de operação da Polícia Federal nesta semana narrou com riqueza de detalhes à abordagem sofrida por ele, quando passou a ser um das vítimas obrigada a vender os cigarros do bando.
E você deixou eles tomarem o cigarro na boa?
COLABORADOR PREMIADO: Deixei pô, eu tava, eu tava com o meu filho, sentado assim, aí chegou, parou os carro, eu nem sabia quem era. Na hora eu tomei um susto pô! Parou dois carro, desceu um, esse, um cara… eu sou alto, o cara dá quase dois de mim, fortão, com esse MOUA os cara já chegou: ´Dono aqui do comércio?´ Aí eu levantei: Sou eu. Ele: ´E esses cigarro aí?´ Aí eu falei: Éh… eu vendo. Ele: ´Com quem tu pega?´ Aí na época eu falei o nome, mas eu não me lembro o rapaz… aí eu falei: É, eu pego com o rapaz aí, aí ele: ´Quem é esse rapaz?´ Eu falei: Eu não sei, ele passou aqui me oferecendo… Ele: ´Posso ver?´ Aí eu fui e dei o pacote aí ele: ´Me dá licença aí.´ Aí foi entrando e foi recolhendo, eu falei: Pô irmão… Ele: ´Não, me dá licença! Éh, éh… Se eu fosse você ficava na tua aí, a gente não quer fazer nada contigo.´ Aí foram pegando os cigarro… foram pegando aí nisso eu falei: Pô irmão! Aí ele: ´Não óh, cigarro é tudo da banca, é da GRANDE DE RIO.´ Aí eu falei assim: Pô, mas eu tenho as máquina aí que é de lá também, é do seu EDUARDO. Ele: ´Irmão, não quero saber não, tamo levando. Quem é esse senhor EDUARDO?´ Eu fui e falei: Pô, eu vou ligar pra ele aqui. Ele falou que é cunhado até desse JOÃO, ficou de me apresentar a ele. Aí ele: ´Então fala com ele aí, fala que a gente tá pegando o cigarro.´ Aí eu liguei, aí ele: ´Só um minuto LEANDRO, que eu vou falar aqui com o meu cunhado.´ Aí ligou pro JOÃO, aí depois ele me retornou e falou: ´Não, fica tranquilo, deixa eles levar que vou tá vendo isso aí pra você. Se for o caso, eles vão te devolver.´ Aí beleza, eles foram e falaram comigo: ´A partir de hoje você tem que pegar esse cigarro com o fulano de tal, vai vim um rapaz aqui e você vai passar a pegar com ele, só pode vender se for esse cigarro aqui.´ Aí beleza, eles foram embora e foram bater em outros comércio também, ficou o maior… comentário lá ´Ih, os cara tão apreendendo os cigarro todinho aí!´ Aí nisso, teve o dia de eu prestar conta com..
A relção com a milícia
Outro modo de atuar do bando, característico de suas extorsões, é a realização de parcerias com outras organizações criminosas, sejam elas ligadas ao tráfico de drogas ou a milícia, para, se valendo da estrutura de medo e coação que tais grupos exercem em suas áreas de domínio, consigam obrigar os comerciantes daquelas áreas a, apenas, venderem as marcas e cigarros da Banca da Grande Rio.
Essa parceria criminosa ficou muito evidente em mensagem de voz enviada por Whatsapp pelo denunciado Serginho ao acusado Diego.
´Ae, hoje eu fui no terreirão lá, eu, Renata. A gente conversou com o cara lá, o pica lá. O cara vai botar o onix lá mané, esse Club One lá. Entendeu? Porque lá, na Gilka Machado, é tudo Club One. Eu acho que a gente vai começar o seguinte, a levar para ele lá, entendeu? Ele disse que vai começar com pouca, vai começar com umas dez, quinze, entendeu?! Para começar. Depois ele vai ver se amplia lá, entendeu? Mas o … esse Club One é o seguinte, é só lá mesmo, entendeu? Esse outro aí, em Curicica, nego só quer esse outro aí mané, não tem”
Neste papo, Serginho deixou evidente que havia se reunido com o responsável da área conhecida como ´Terreirão´ e negociado a inclusão do cigarro Club One.
Há menção de que na Avenida Gilka Machado, que margeia a comunidade do ´Terreirão´ tudo seria Club One.
A comunidade do ´Terreirão´, no Recreio, é notoriamente conhecida por ser de domínio de grupos milicianos .
Ainda no dia 03/06/2020, o mesmo ´Serginho também relatou seu encontro com milicianos para o acusado Turques .
Ah e, mané. Porra, ontem era dez e pouca eu tava la dentro da comunidade de Asa Branca lá, milícia lá. Tava lá lanchando, porra cabeça quente já, dor de cabeça do caralho… falei pro cara, falei: parceiro, não tem como assim não cara, não tem como não, entendeu? A gente paga frete, disputa dinheiro dos outros, entendeu? Disputa pra vir, disputa pra voltar. Se quiser, entendeu, a gente até faz um preço melhorzinho pra você, mas você tem que buscar lá, leva o dinheiro, a gente paga a firma lá, você… a gente pega o material você… a gente marca o lugar, vocês carrega o carro de vocês e vocês trazem, porque assim não dá não.
Jogo do bicho
Membros dos primeiros escalões do bando também estavam envolvidos com a exploração do jogo do bicho, de bingos e máquinas caça-níquel.
Outra presença forte testemunhada pelo colaborador nas comunidades dominadas pelas milícias eram os proprietários de máquinas de caça-níquel, ligadas aos bicheiros, criminosos tradicionais do Rio de Janeiro, com relacionamentos antigos e consolidados com a segurança pública e a política no estado.
“Uma vez, a gente tava lá na comunidade fazendo um churrasco, e um deles chegou.´
A testemunha afirmou que foi uma situação fora de contexto, inusitada.
O homem para sua picape na entrada do morro, foi até onde eles estavam, disse boa-tarde e perguntou: ´Quem é o frente? Quem manda aqui?´.
O colaborador se assustou com a situação e com o tom de voz seguro do interlocutor.
´Caralho, o cara chegou com uma pressão fodida, vamos conversar com ele´,
Ele disse ao grupo, antevendo complicações. Ele se aproximou do sujeito e explicou: ´Tranquilo, irmão, olha só, eu estou na frente, mas não sou o dono, são dois policiais´.
O mensageiro, porém, havia ido propor a eles um negócio que poderia aumentar as receitas da milícia. E fez a oferta: ´Seguinte, a gente quer colocar umas maquininhas de caça-níquel aqui. Vocês fazem o recolhe, ganham um porcentual´.
Apesar desta relação, havia determinação expressa para que ´bancas do jogo do bicho´ não comercializem cigarros, o que demonstra a influência dos ´patrões´
AGONIA, já foi falado, já tem mais de um ano que o patrão não quer que banca de cigarro … que banca de bicho vende cigarro.
Parceria com o tráfico
Já a parceria com o tráfico de drogas foi delineada pelo colaborador premiado, quando falou sobre o acusado Rogger Fernandes,
E o Roger trabalhava sozinho nessa rota (em) Nova Campina?
COLABORADOR PREMIADO: O Roger ele… já… tipo assim, lá, a Nova Campina é controlada pelo tráfico de drogas, e o tráfico no começo não deixou entrar o cigarro lá…
: Aí os cara da contravenção começou a ir lá, tiveram um atrito, depois entraram num acordo, aí eles botaram o Roger pra… fazer esse trâmite de buscar mercadoria e levar o dinheiro
Mas o Roger não era responsável por nada não. Igual a mim, eu já era o responsável lá da minha rota, o Roger, à vezes, entre aspas, ele trabalhava tipo pro pro… pros cara do tráfico, entendeu? Pros cara do tráfico não tá indo lá se expor, botar a cara lá, ele botaram o Roger pra fazer esse serviço.