Fábio Gordo participava com Jerominho e Natalino de ataques para matar vítimas da Liga da Justiça. Relembre crimes da época

Fábio Pereira de Oliveira, o Fábio Gordo, morto ontem em Cosmos, na Zona Oeste do Rio, tinha uma relação próxima aos irmãos Jerônimo e Natalino Guimarães, fundadores da milícia Liga da Justiça, o maior grupo paramilitar do Estado.
Segundo um processo na Justiça, ele agia junto aos chefões até mesmo no cometimento de homicídios. No dia 15 de junho de 2005, Fábio, Natalino, Jerominho, Leandrinho Quebra Ossos e outros munidos de armas de fogo dirigiram-se em comboio, para Guaratiba, nesta cidade, com o propósito de matar M.E.S.L Eduardo dos Santos Lopes.
Eles localizaram a vítima na Travessa Macedo, efetuando vários disparos de armas de fogo em sua direção. M, no entanto, antevendo a intenção de seus algozes, conseguiu fugir sem ser atingido, embora os disparos tenham atingido imóveis existentes no local.
O crime foi praticado para assegurar a continuidade e a impunidade das extorsões cometidas pela quadrilha, pois a vítima também denunciara as atividades do grupo à Corregedoria Geral Unificada e à Delegacia de Polícia Judiciária Militar.
As investigações revelaram que partir do ano de 2005, nos bairros de Campo Grande, Guaratiba, Paciência, Cosmos, Santa Cruz, todos situados na Zona Oeste do município de Rio de Janeiro, os denunciados, agindo em cooperação e comunidade de propósitos, associaram-se de forma estável e permanente, com a finalidade de cometer crimes, organizando-se em quadrilha armada, por eles intitulada de ´Liga da Justiça´.
A quadrilha, composta pelos denunciados e por outros indivíduos ainda não identificados, passou, desde então, a exigir de moradores e comerciantes dos citados bairros, o pagamento regular e de contribuições em dinheiro, a pretexto de protegê-los da ação de criminosos que atuam na região.
Para assegurar o efetivo recebimento dos valores cobrados, os denunciados, ordinariamente, constrangiam suas vítimas, com emprego de violência ou grave ameaça, exercidas com emprego de armas de fogo, agindo de igual modo em relação a motoristas e cooperativados do transporte alternativo de passageiros (Vans), dos quais também exigiam contribuições em dinheiro (Diárias), para que lhes fosse permitido trabalhar nos locais dominados pela quadrilha, o que faziam valendo-se dos mesmos meios de coerção, aqueles que não cumprem as determinações da quadrilha ou que noticiam suas atividades às autoridades públicas sofrem represálias, havendo nos autos do inquérito que instruem a presente peça acusatória notícias de desaparecimentos e de homicídios, consumados e tentados, de pessoas que ousaram desobedecer aos denunciados ou revelar seus crimes.
Com o propósito de demonstrar autoridade e poder, buscando legitimar-se junto à população das áreas onde atuava, a quadrilha também agia contra alguns delinqüentes, que eram seqüestrados e jamais retornavam à localidade
.A ação da quadrilha era quase sempre ostensiva e seus crimes são praticados às escâncaras, havendo notícia de que os quadrilheiros se identificam com a insígnia de ´Batman´, super herói das revistas em quadrinhos, afixando-a em veículos e nas vestes que utilizam para as práticas criminosas. O referido emblema era também usado para identificar estabelecimentos comerciais e residências que se achavam sob a proteção do grupo.
Vários outros crimes da quadrilha foram relatados em processos judiciais.
No dia 19 de julho de 2005, por volta das 19:00h, no terminal rodoviário de Campo Grande, um membro da quadrilha, constrangeu mediante grave ameaça Juarez Marcelino Dutra, proprietário de duas vans, a pagar diárias para a quadrilha, o que motivou Juarez a procurar a polícia noticiando o fato na 35ª DP.
Depois de denunciar a extorsão, Juarez e seus familiares passaram a receber ameaças de morte, o que o levou a, novamente, noticiar o ocorrido à Polícia, em 29/07/2005, desta vez à DRACO.
Na oportunidade, apontou como autores das ameaças, entre eles, Jerominho. Pouco mais de dois meses depois da comunicação, em 04/10/2006, por volta das 8:30h, em um posto de gasolina localizado na Estrada do Cabuçu, em Campo Grande, Juarez foi morto a tiros por dois indivíduos que estavam em uma motocicleta.
No dia 05/02/2007, por volta das 20h00minh, na Rua Paulinho do Ilha, em Nova Jersey, bairro da Paciência, integrantes da quadrilha, dentre eles Ricardo Teixeira Cruz, seqüestraram dois adolescentes, um deles de 16 anos de idade, espancando-o barbaramente. Desde aquela data não há qualquer notícia acerca do paradeiro das vítimas.
No dia 13/04/2007 por volta das 19:30h, na área comum de um condomínio residencial situado em Campo Grande, um dos milicianos determinou a Y.M Yuri diretor da Cooperativa Rio da Prata, de transporte alternativo de passageiros, que avisasse a C.M, administrador da citada cooperativa, sua intenção de apossar-se de tudo em Campo Grande, Santa Cruz e Sepetiba.
No dia seguinte, cerca de vinte homens, armados com fuzis e pistolas, dirigiram-se à filial da cooperativa Rio da Prata, em Santa Cruz. Um dos paramilitares disse a C.V.S, administrador da cooperativa, em tom ameaçador, o seguinte: ´Meu irmão, avisa ao amigo lá em Bangu, que daqui pra frente, Campo Grande, Santa Cruz, Sepetiba e Itaguaí é tudo nosso! Manda avisar ao amigo de Bangu para aceitar, pois perdeu, senão vai acontecer o mesmo que aconteceu com Ilton (ex-sargento da Polícia Militar, administrador de cooperativa de transporte alternativo em Santa Cruz, assassinado em 10/04/2007)´.