Interceptação revelou que milicianos de Nova Iguaçu esperaram testemunha sair do Fórum do Rio para executá-la. Escuta mostrou conversas sobre homicídios, agressões, desenrolo em investigação, negociação de armas, roubos e morte de motoristas de aplicativo

Milicianos de Nova Iguaçu ficaram do lado de fora do Fórum do Centro do Rio para executar uma testemunha que foi depôr contra eles, segundo escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.
As interceptações mostraram conversas entre os paramilitares que disseram que teve audiência, diz que o “maluco” teria ido, fala que o teriam aguardado a saída desta pessoa do Fórum após serem avisados por alguém que estaria no interior do fórum, diz que os “malucos” ficaram procurando a suposta testemunha, mas não localizaram.
Um homem não identificado falou que a suposta testemunha seria um “ninja” e que já deveria estar “escaldado”.
Um dos líderes do grupo disse que a testemunha deve ter ficado fazendo hora antes de deixar o fórum, pois teria feito tanta coisa que estaria preocupado.
Outro integrante da quadrilha falou que uma pessoa apontada como quem teria feito a “situação” com os “caras” estaria passando de motocicleta na localidade, então não teria sido ele o alcaguete. A liderança, então, pediu o comparsa HNI aguarde que os “malucos” já estariam chegando.
Segundo a Justiça, restou dúvidas que o diálogo acima indica a execução de uma testemunha que, após fazer denúncias contra criminosos, estaria sendo ouvida no Fórum da Capital do Rio de Janeiro.
Desenrolo em investigação
Os milicianos também foram flagrados falando sobre um desenrolo em uma investigação policial na qual um advogado do grupo iria botar a cara e negociar. O nome de um agente foi citado na conversa.
Homicídio do próprio cunhado
Os paramilitares foram interceptados também falando de homicídios. Um deles perguntou quem o miliciano Lu estava querendo matar, o outro falou que era Diego (próprio cunhado de Lu) porque teria dado ele para Fernando Quebra (integrante de milícia rival).
No decorrer da conversa, os milicianos falam de um homem conhecido como Puf pegou um maluco aí na covardia e matou, que o homicídio teria ocorrido no bairro da Cerâmica 34.
Falaram também que Brand pegou a irmã do Puf e botou o oitão na cara do marido dela e mandou-o vazar ou o mataria, dizendo que agora a mulher seria dele.
Os milicianos falaram também sobre um tal de Careca dizendo que os paramilitares estavam revoltados com ele e que para matá-lo custava pouco. Depois, citaram Thiago, dizendo que ele matou um tal de Nem mesmo andando junto com ele e poderia matar Careca também.
O chefe do bando, Igor Russo, foi flagrado em uma escuta pedindo a comparsas mais dados sobre os executores de Velhão com a intenção de retaliação. O cúmplice lhe disse que os assassinos estavam em um Ford Ka preto.
‘Vamos dar um pau, arrebentar, bater muito’
A polícia interceptou uma conversa em que os paramilitares falavam sobre um desafeto e que estavam querendo “dar um pau” (bater) na citada pessoa.
Um deles disse que que querem arrebentar, bater muito. O outro falou para não matar e que arrume uma peça (arma) e, com ela, enquadraria a pessoa e daria várias coronhadas, ou até mesmo poderia matar.
Morte de Ubers
Em mais uma escuta, os milicianos falaram que roubavam carros e caso o motorista fosse de aplicativo, o executavam.
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Negociação de armas e munições
Havia também negociação de armas. Em uma delas, um miliciano disse que seu pai quer ver e comprar a arma mas reclamou do preço pedido na pistola estaria um pouco caro (R$ 5.000).
Em outra, um miliciano perguntou se o maluco pegou a parada (munições) e se está aguardando o comprador. O comparsa questionou ainda se o vendedor tem de oitão (munição calibre 38). O outro falou que tem um maluco que traz e que teria fechado a compra de munições a R$ 140.
A investigação
As escutas fizeram parte de uma investigação sobre uma organização criminosa responsável pela pratica uma série de delitos nos bairros Cerâmica, Morro Agudo e adjacências, localizados na região de Nova Iguaçu e no município de Vassouras – RJ.
A apuração teve origem a partir da apuração do homicídio ocorrido no dia 29 de junho de 2019, no bairro Miguel Couto – Nova Iguaçu – RJ, investigado sob o nº 861-00766/2019, praticado contra a vítima Douglas Vinicius Souza dos Santos.
Durante as diligências ficou comprovada a existência da organização criminosa, ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais graves, como extorsões, roubos de veículos, latrocínios, receptação, exploração monopolizada de serviços como venda de água, internet e TV a cabo, mas principalmente homicídio e ocultação de cadáver.
Com o decorrer do tempo, houve uma ruptura em sua composição, formando-se dois grupos rivais, um liderado por “Igor Russo” e o outro por Fernando Quebra”, responsáveis por uma série de delitos gravíssimos, praticados para a manutenção da estrutura criminosa e conquista de território.