MATANÇA NO MT: No primeiro crime em que ajudou PMs a cooptar vítimas, informante ganhou como prêmio viagem ao RJ. Ele não sabia que era para matar. Um dos mortos foi executado com tiro encostado na cabeça e policiais disseram que foi confronto

Em 3 de outubro de 2017, foram mortos Mayson Ricardo de Moares, Fabrício Soares Ferreira e Deberson Pereira Oliveira, fato ocorrido na região do Rodoanel, entre as Rodovias Emanuel Pinheiro e Elder Cândia, no município de Cuiabá/MT. Um deles foi executado com um tiro encostado na cabeça.
Segundo policiais militares, os suspeitos teriam atirado contra as viaturas, instalando um confronto com os agentes, os quais revidaram os disparos.
O informante dos PMs declarou que se tratou de mais uma ação previamente acertada entre ele e os militares, cuja intenção era matar os suspeitos que foram atraídos para a situação fictícia.
As vítimas cooptadas eram suspeitos de praticar furtos em supermercados do Bairro Jardim Vitória (Supermercados Teixeira), região onde a segurança privada estava a cargo do pai de W, cunhado de R. Contudo, W e R também teriam prestado serviços de segurança privada naqueles supermercados.
Esclareceu que a vantagem que obteve deste crime foi uma viagem que ganhou para o Rio de Janeiro.
Sobre este crime R declarou que estava de “batedor” num veículo Gol, cor preta. Combinou com a “gurizada” de se encontrarem na Fundação Bradesco, Região do Bairro Jardim Vitória.
Para atrair as vítimas, R falou que tinha uma chácara “mamão com açúcar” para eles roubarem, onde haveria dinheiro, ouro e armas, coisas que a “gurizada” gosta.
Na tarde dos fatos, eles saíram em comboio, sentido à região do Rodoanel. Logo avistou duas viaturas caracterizadas da ROTAM e uma viatura descaracterizada (Cross Fox, cor preta, utilizado pela inteligência da ROTAM) e a todo momento R alegava que realizava chamada de viva voz com os policiais.
Em determinado momento, R diz que acelerou o carro, passando pelas viaturas, e seguiu seu rumo. Apenas no dia seguinte ficou sabendo que os três envolvidos tinham sido “trincados”, ou seja, mortos.
Esclareceu que nessa situação do Rodoanel a “gurizada” estava armada – dois com revólveres e um com pistola. Havia um outro, conhecido por Satã, que se encontrava com uma arma calibre .12, porém, de última hora Satã desistiu de participar do suposto roubo.
R afirma que indagou de um PM porque haviam matado os “caras”, no que o agente disse: “Você achou que a gente estava brincando?”
Como esta foi a primeira vez que ele havia atuado como cooptador, Ruiter afirmou que não sabia que os policiais iriam matar, mas depois deste fato tomou conhecimento que aquele tipo de ação iria se tornar constante, ou seja, todos os demais alvos cooptados por ele seriam executados.
Uma testemunha, amigo da vítima Fabrício Soares Ferreira, relatou que estava presente no dia em que W ofereceu um assalto numa chácara de um político, localizada na Estrada da guia. A testemunha recusou a proposta, mas Fabrício aceitou e convidou as vítimas Deberson e Mayson para participar do suposto roubo.
A prova pericial destacou que não houve avarias ou danos provenientes de disparos de arma de fogo no veículo Gol, bem como não havia manchas de sangue em seu interior, indício de que as vítimas não foram alvejadas dentro do carro.
Ademais, o laudo necroscópico atesta que a vítima Deberson recebeu um tiro encostado na cabeça e as demais vítimas foram atingidas por disparos efetuados a curta distância, indício de que a situação de confronto apresentada pelos representados pode não ser real.