PM preso suspeito de ligação com milícia do Campinho admite ser amigo dos chefes mas é absolvido e solto

O PM Rafael Ávila, conhecido pelo apelido de Manteigão, chegou a ser preso em 2018 suspeito de ser integrante da milícia do Campinho, na Zona Norte do Rio. Ele acaba de ser absolvido e solto por decisão da Justiça, que alegou não ter encontrado elementos para condená-lo.
Ele admitiu, em depoimento, ser amigo dos dois principais chefes da quadrilha, os irmãos Leonardo e Diego Luccas Pereira, conhecidos pelos vulgos de Leleo e Playboy (preso recentemente) mas negou que faça parte da organização criminosa. Disse inclusive não saber que os irmãos tinham envolvimento com o crime.
” Não faço e não fiz parte dessa associação criminosa da denúncia; estou sendo acusado por causa de amigos de infância; no carnaval, acho que de 2018, viajei com minha esposa e, no segundo dia, ela brigou comigo e veio para o RJ; saí, fui para uma festa em Búzios e lá encontrei amigos de infância e tirei fotos com alguns deles; por causa disso me acusaram; não cheguei a trocar mensagens por wathsapp com esses amigos; depois dessa festa, me botaram num grupo, mas era grupo de carnaval, que tinha mulheres e homens, coisa normal de carnaval, sem necessariamente ter envolvimento; esses amigos são Diego e Leonardo, os quais não sei dizer se têm envolvimento”, declarou em seu relato.
Outro policial militar que foi preso junto com Rafael, Bruno Henrique Guarany de Carvalho também foi absolvido e posto em liberdade. Ele também negou os fatos mas admitiu conhecer os irmãos suspeitos.
“Não faço e não fiz parte de organização criminosa; já é a segunda vez que me acusam disso aí; (…) da primeira vez, o desembargador deu inépcia da denúncia, eu não pude nem me defender; e agora respondo pela segunda vez; não tenho ideia porque meu nome apareceu nesse processo; não sei se eles puxaram meu nome do processo antigo; não participo de grupos que whatsapp que poderia ter me comprometido; só participo de grupos do batalhão e de família; eu conheço Rafael da polícia e ele é padrinho da minha filha mais nova; moramos no mesmo lugar desde que nascemos; conheço os corréus Leonardo e Diego, eles moram próximo da minha residência; (…) não conheço Edmilson Gomes Menezes; já ouvi falar no vulgo ´Macaquinho´, o conheço pelo apelido; eu vejo em reportagens que ele é um dos donos dessa organização criminosa do Campinho; não tenho contato mais íntimo com ele, além dos jornais; nunca conversei e nunca estive pessoalmente com ele; (…) vivo nessa localidade desde que nasci; meu apelido é meu sobrenome da polícia porque meu pai é policial também e o chamam de ´Guarany´; então, meu apelido é ´Guarany´.
Os dois, entre outros acusados, foram incluídos em uma investigação que apurou que, pelo menos, de 2017 a outubro de 2018, a existência de uma milícia que atuava nas comunidades de Campinho, em Campinho, do Fubá, em Madureira, do Quiririm, em Valqueire, da Caixa D’água, em Quintino, da Chacrinha, na Praça Seca e do Jordão, na Taquara, que empregava diversos tipos de arma de fogo e conta com funcionários públicos, em especial policiais militares, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem econômica ilícita, mediante a prática de incontáveis crimes, notadamente os delitos de extorsão a moradores, comerciantes e prestadores de serviço a pretexto de oferecer serviços de segurança, o crime de comércio ilegal de arma de fogo, tráfico de drogas e exploração e comercialização de sinais clandestinos de internet e televisão a cabo, havendo indícios ainda de cometimento de homicídios com características de ´justiçamento´ e exploração ilegal do comércio de gás , mediante a monopolização do serviço de venda de botijões de gás de cozinha a moradores
No trabalho policial, foi possível ter acesso a conversas entre integrantes de grupos de whatsapp (um deles denominado ´Terror dos faixas rosa´) sobre assuntos relacionados a atividades milicianas, fazendo parte desses grupos: ´Marquinhos Federal´, os acusados Bruno e Rafael, Leonardo Luccas e Edmilson, que seria conhecido como ´Macaquinho´. Aduziu que a partir dessas informações foi feito um relatório policial com os prints das telas do celular apreendido e, paralelamente, foram ouvidas três testemunhas, além de ter representado pelas prisões preventivas dos acusados identificados e pela expedição de mandados de busca e apreensão.
Segundo a Justiça, ultrapassada a fase instrutória, o quadro probatório carreado aos autos não demonstra com segurança que os acusados Bruno e Rafael praticaram o crime que lhes é imputado. Podem até tê-lo feito, mas isso não se sabe, havendo dúvida mais do que razoável a esse respeito.