“Vai morrer polícia”, “Arrebenta os azul”, “Dá colocado, dá em cima”. Relatos ao MP revelam ameaças de traficantes e apuros passados por PMs em confrontos com o bonde do Professor no Alemão (CV). “Ele jogou uma granada em minha direção”

“Vai morrer, polícia, é o comando. Vai morrer UPP”
“Rala, UPP. Vai morrer polícia, vem trocar no miolo, seus filhos da puta, vem trocar comigo”
“É o Torra, porra, peita da UPP, vai morrer”
“Vai morrer, polícia. Vai morrer cu azul, vai entrar na bala. É o bonde do Professor, é o Marcinho, é o Maluco”
Dá colocado, dá em cima, deixa eles saírem não”
“Arrebenta os azul, brota no miolo.é o bonde do professor, é o comando”
Essas frases, faladas normalmente com gritos, foram de traficantes do bonde do Professor, que comanda a Favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão, durante ataques a policiais militares.
Uma denúncia feita pelo Ministério Público Estadual há pouco mais de dois anos relatava os apuros que os PMs passavam na comunidade
“O clima era de aparente normalidade. Em dado momento, começaram os disparos em direção às viaturas. A tropa desembarcou e procurou abrigo. Os disparos eram incessantes. Eram em sua maioria de fuzil. Granadas foram lançadas nos policiais. Para repelir, fiz disparos com meu fuzil. Ficamos diversos momentos encurralados. Não restou outra alternativa a não ser pedir reforços de outras unidades”, disse um PM.
O mesmo agente contou que os ataques foram nas localidades do ” Lava – Jato”, ” Área 5″, “Esquina da Claro” e outros simultâneos. Disse que teve que fazer 25 disparos.
Segundo ele, os bandidos chegaram a distância relativamente próxima dos policiais, a ponto de granadas serem utilizadas de forma mais corriqueira.
O confronto durou cinco horas e só terminou depois que os traficantes pararam de atirar.
“Estava em deslocamento de rotina pela comunidade da Fazendinha. Em dado momento, fomos surpreendidos por diversos disparos. Não restou outra alternativa a não ser desembarcar e procurar abrigo. Com o passar do tempo, mais bases da UPP-Fazendinha eram atacadas, tudo simultâneo. O confronto tornou-se tão violento que foi preciso pedir auxílio a outras UPPs. Diversos explosivos, inclusive, granadas, foram arremessados em minha direção e dos meus companheiros. Foi possível ouvir diversos gritos perpetrados pelos criminosos. Esses gritos eram mais audíveis quando se tinham, breves pausas no confronto. Também era possível ouvir os criminosos comunicando-se via rádio transmissor;”, contou outro PM.
O policial falou que o traficante Professor, que estava em um dos becos da localidade, arremessou uma granada. O artefato chegou a estourar na sua frente, porém, não sofreu nenhum ferimento.
Um outro policial que participou do confronto disse que ouviu vozes dando coordenadas de
como os criminosos deviam se portar no embate.
Falou que, em muitas ocasiões, a distância do confronto permitia ver criminosos correndo, realizando uma espécie de “progressão”, quase que de forma similar as adotadas pelas Forças de Segurança nas comunidades.
Disse ainda que escutou os criminosos dizerem para recolher os bicos (fuzis) e sair da pista.
Mais um policial falou que ouviu os bandidos dizerem para “descer mais fuzil”. Os criminosos falavam muito de munição e chamavam os PMs de vermes.
A comunidade da Fazendinha conta com centenas de criminosos armados diuturnamentealém disso, barricadas em pontos estratégicos estão posicionadas, dificultando assim o ingresso das Forças de Segurança do Estado na comunidade, bem como demais serviços públicos a serem realizados para a população que lá reside.
As localidades na comunidade da Fazendinha estão distribuídas da seguinte maneira:- Ladeirão da Fazenda (Jurarema); – Canitar; – Relicário; – Casinhas; – Estofador; – Lava Jato; – Campo do Seu Zé; – Cabina das Torres (Inferno Verde); – Zona do Medo; – Área Cinco.
Todas essas localidades no interior da comunidade da Fazendinha contam com soldados do tráfico fortemente armados.
Neste contexto foram juntados aos autos cópia do registro de ocorrência nº 021-01809/2020, confeccionado no dia 20/02/2020, no qual resta clara a rotineira venda de drogas na comunidade, bem como cópia do registro de ocorrência nº 044-00001/2020, que se refere a inquérito policial em trâmite nesta UPJ, no qual fora noticiada a explosão de uma residência que era utilizada para endolação de drogas, ou seja, local utilizado para preparar a droga para venda a varejo.