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Veja detalhes das extorsões cometidas por vários PMs que se faziam passar por agentes da Delegacia Anti-Pirataria

A Polícia Militar publicou em seu boletim interno detalhes das extorsões que foram cometidas por policiais militares que se faziam passar por agentes da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRPCIM) em 2019. O processo segue em curso na Justiça.


Ao todo, a corporação cita na publicação os nomes de pelo menos 14 PMs de várias unidades envolvidos no esquema.

Na época dos fatos, os PMs estavam  lotados na Subsecretaria de Inteligência da Polícia Militar (SSI).O depoimento de um dos citados revela dia 14 de novembro de 2019, esteve presente na ocorrência na Rua Carolina Machado, n.o 560, sala 315, Madureira, Rio de Janeiro-RJ, e teria observado um colega conversado em particular com J.N.S.G, proprietário do estabelecimento comercial, e com um outro PM, conhecido como Betinho.


De acordo com o depoimento do comerciante, Betinho exigiu o valor de R$ 30.000,00 para que não perdesse sua mercadoria e continuasse a trabalhar. 

Após informar que não teria o valor exigido, foi reduzido para R$ 20.000,00, a vítima, com medo de sofrer represália e temer pela sua vida, ofereceu o valor de R$ 5.000,00;

O PM alegou que estava muito distante da realidade e que havia vários envolvidos e atendeu ao telefone como se tivesse falando com seu superior, deixando a entender se tratar do superior da DRCPIM, o qual estaria exigindo que fosse levado tudo.

Sendo que uma hora após, a pessoa que seria o superior que estava ao telefone, chegou ao local, se identificando apenas como tenente, lotado na SSI/PMERJ e estava verificando uma denúncia, e que o comerciante nada poderia fazer para reverter a situação, mas exigiu o valor de R$ 20.000,00. 


A vítima então disse que poderia arrumar o valor de R$ 15.000,00 sendo aceito o acordo pelos militares que pegaram o número do telefone do lojista para marcar o local do pagamento e foram embora.

Cita-se ainda parte do depoimento da vítima J, onde informou que no seu estabelecimento tinham aproximadamente nove pessoas envolvidas, sendo duas mulheres, uma loira e outra morena. Que os envolvidos não chegaram a pedir dinheiro para o declarante, mas ficaram “colocando medo”. Todos eram policiais.


M.B.M prestou depoimento dizendo que um cidadão a procurou informando que o PM vulgo Betinho estaria com denúncias de lojas vendendo produtos irregulares, e que já teria ido na loja do comerciante A e que teriam apreendido todo material, usando como exemplo com quem não pagava propina a tais policiais.


O cidadão passou o telefone do PM  para que a mesma fizesse contato, mas no primeiro momento não o fez pensando que seria vítima de extorsão, porém ao saber que os policiais estavam fazendo várias extorsões pela área e quem não pagava tinha o material apreendido de forma ilegal, diante disso resolveu fazer contato com o agente. 

No dia 14 de novembro de 2019, na parte da tarde, foi surpreendida em sua loja, que fica localizada em Magalhães Bastos, Rio de Janeiro/RJ, por três policiais que usavam distintivos no peito como se fossem policiais civis, sendo abordada por Betinho, que dizia estar com denúncias contra a loja da dela e que não teria como segurar, logo foi indagado se havia outra forma de resolver.


Um dos PMs  disse 100 mil e riu, a denunciante falou que não possuía tal valor e poderia pagar mensalmente, não sendo aceito pelos agentes.


Um cabo fez uma nova proposta no valor de R$ 10.000,00, a denunciante só possuía o valor de R$ 700,00 e deu esse valor na mão de Betinho, que ficou de voltar para pegar o restante, que o pagamento seria R$ 1.000,00 por semana.

Cabe ressaltar que no mesmo dia 14 de novembro de 2019, por volta das 20h, dentro de uma caixa de chinelo foi entregue o valor de R$ 12.000,00  a três PMs e e outro homem não identificado na passarela da Estação de Trem de Madureira.

Além disso, no dia 18 de novembro de 2019, D.M.D, proprietário de loja no Centro de Nova Iguaçu por volta das 14h30min, recebeu um telefonema de seu pai, o qual disse para retornar para loja com urgência porque havia policiais fiscalizando seu estabelecimento comercial, quando che-gou foi abordado por três policiais se identificando como da delegacia especializada e estavam com uma denúncia de que no local comercializavam produtos falsificados, posteriormente os militares disseram que iriam arrecadar as mercadorias e levar para a delegacia porque além de serem “piratas”, não possuíam nota fiscal.

O denunciante tentou argumentar com “Betinho”, se não havia comoresolver de outra forma, mas foi respondido que não, após muita insistência o mencionado PM disse que a equipe era composta por onze pessoas e pediu a quantia de R$ 40.000,00, como o comerciante ante D não possuía tal valor, “Betinho”, fez uma contra proposta de R$ 20.000,00, proposta esta que também não podia pagar.
Nesse momento foi pedido R$ 5.000,00.

O denunciante foi até o banco e só conseguiu sacar a quantia de R$ 4.000,00, valor este retrucado por Betinho”, mas aceito pela equipe.

Posteriormente o denunciante foi informado pelo segurança do prédio que os mencionados agentes estavam utilizando uma pick-up cabine dupla marca Ford, modelo Ranger, de cor branca e placa não
anotada. Que reconheceu, através do álbum fotográfico da DRCPIM, Betinho e um outro policial. 

Após esse fato, a vítima G.A.C relatou que por volta das 16h, do mesmo dia, três nacionais bateram à porta de seu estabelecimento localizado na Av. Gov. Roberto Silveira, no Centro de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro/RJ, se identificando como sendo PMS da Secretaria de Inteligência, informando que fiscalizariam a sala por conta de uma denúncia. 


Que de imediato franqueou a entrada dos indivíduos em sua sala, e um deste informou que teria que levar a sua mercadoria por serem “piratas”, mas “tinha uma conversa” e pediu a quantia de R$ 10.000,00 para não efetuar a apreensão de toda a mercadoria, o mesmo informou que não tinha tal valor, sendo solicitado R$ 5.000,00 mas deveria ser imediatamente, a vítima falou que só poderia arrumar R$ 2.000,00sendo informado que era pouco.

Então seu amigo J.N.S.G que já tinha passado por esta situação quatro dias antes, emprestou R$ 2.000,00, sendo pago o valor de R$ 4.000,00 

Outra ocorrência foi no dia 21 de novembro de 2019 em que a vítima C.Z, não aceitou pagar o valor de R$ 100.000,00 .que após negativa da vítima foi reduzido para o valor de R$ 80.000, sendo feita uma contra proposta pela vítima no valor de R$ 10.000,00 diante disso os militares aceitaram e receberam o valor, no entanto, apreenderam as mercadorias que se encontravam no local, desviaram parte dela e apresentaram o restante na distrital, sendo lavrado o RO n.o 029-10598/2019, assim como prenderam em flagrante a vítima, por corrupção ativa, fato este registrado sob o n.o 029-10606/2019.

Cabe acrescentar ainda que parte da mercadoria desviada foi recuperada na residência de Betinho e de outro policial durante cumprimento de mandado de busca e apreensão expedido nos autos do processo judicial n.o 0300507- 16.2019.8.19.0001, da Auditoria da Justiça Militar .

Oportuno mencionar parte da denúncia, que no dia 26 de novembro de 2019, na Estrada da Cachamorra, Campo Grande, Rio de Janeiro/RJ, policiais se identificaram como da SSI-Antipirataria, e, afirmando que apreenderiam todas as mercadorias sem a respectiva nota fiscal, exigiram, da vítima C.S,C para não o fazer, vantagem indevida que, após negociação, ficou acertada a quantia de R$ 5.000,00.

Frisa-se que o valor de R$ 5.000,00  foi recebido por um cabo e  CB  e conferido junto com outros colegas,, todos reconhecidos pela vítima através do álbum fotográfico da DRCPIM. 


O então delegado titular da DRCPIM Mauricio Demétrio Afonso Alves, responsável pela investigação do caso acima narrado, foi preso no dia 27 de dezembro de 2021, após o Ministério Público do Rio de Janeiro analisar o conteúdo de celulares do delegado, onde o material revelou que ele negociava o pagamento de propina para mudar o resultado de investigações e que também usou a estrutura da polícia para tentar armar falsas operações. 


Além disso, Demétrio usou o sistema da Polícia Civil para criar um dossiê contra um ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio e sua esposa, tentou armar duas operações falsas, uma delas contra o Prefeito do Rio Eduardo Paes e outra em que iria colocar drogas em um carro usado pela Corregedoria da Polícia Civil que tinha aberto uma investigação contra ele

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