Witzel é batizado em igreja evangélica do Rio em meio a processo de impeachment
Governador afastado do Rio tem frequentado a Igreja Vida Nova, que fica aos pés do Complexo do Alemão, na Zona Norte

RIO — Em meio ao seu processo de impeachment no Rio, o governador afastado Wilson Witzel foi batizado em uma igreja evangélica na noite do último domingo, dia 29, na Zona Norte da capital. A informação foi dada pelo jornal “O Dia”, e confirmada pelo O GLOBO. De camisa preta, ele foi banhado em uma piscina da Igreja Vida Nova, em Inhaúma, localizada aos pés do Morro do Alemão. O batismo aconteceu um dia antes de Witzel protocolar sua defesa ao tribunal misto que dará a palavra final sobre a perda de mandato do ex-juiz.
A mulher de Witzel, Helena, e uma das filhas do casal também se batizaram neste domingo. Nesta terça-feira, o governador afastado mostrou que está mesmo mergulhado na nova religião (ele se declarava católico durante a campanha e o tempo à frente da administração estadual) e chegou a usar um versículo bíblico para explicar o momento político que tem vivido. Na próxima sexta-feira, dia 4, às 11h, o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) fará uma nova sessão sobre o processo do governador afastado. Na ocasião, os cinco deputados e cinco desembargadores que integram o grupo vão definir o calendário do julgamento, com as testemunhas que serão ouvidas e as provas a serem produzidas e periciadas.
Com a palavra, Witzel:
— Lucas 18: 26. E os que ouviram isto disseram: Logo quem pode salvar-se? Mas ele respondeu: As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus. Quais sonhos você tem sonhado, que para você é impossível de alcançar? Jesus nos ensina que aquilo que é impossível para nós seres humanos, é totalmente possível para Deus. Apenas creia e tudo irá acontecer.

‘Estou confiante no meu retorno’
Primeira a se tornar evangélica, ainda no início do processo de impeachment, Helena assumiu a missão de converter toda a família. Começou a promover cultos ainda no Palácio Laranjeiras, muitos deles com a presença do pastor Abner Ferreira, como mostram fotos em sua rede social. Nas imagens está marcado o nome de Filipe Pereira, filho do Pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC. Pai e filho chegaram a ser presos em agosto, na Operação Tris In Idem, que também determinou o afastamento de Witzel do cargo por denúncias de corrupção na área da Saúde. Ferreira é presidente da Assembleia de Deus em Madureira, igreja que era frequentada pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.
Em conversa com o GLOBO, o governador afastado voltou a demonstrar a esperança de que será absolvido e de que vai retornar ao cargo.
— Estou confiante no meu retorno. Sou inocente, mas sofro um processo de rejeição política, pela própria política, por não aceitar ser simplesmente pautado por interesses individuais de qualquer ordem. A manipulação do processo penal é terrível e vem sendo usada por muito tempo para assassinar reputações. Exatamente isto que está acontecendo comigo, único governador investigado que está afastado, tão somente por indícios e com a suposta acusação de que eu desviei a exuberante quantia de R$ 74 mil! A verdade prevalecerá, pelo bem da democracia. Este é meu sonho! — diz o ex-juiz.

Em uma das publicações feitas pela página da igreja Vida Nova, no Instagram, Witzel aparece falando em um palanque da igreja e depois com sua mulher, Helena, e Filipe Pereira. o perfil ainda acrescentou a música “Faz um milagre em mim”, um hino de sucesso do cantor gospel Regis Danese, para retratar as imagens.
Witzel se defende das acusações de irregularidades na contratação da Organização Social (OS) Iabas para a construção de hospitais de campanha e na requalificação da Unir Saúde, assinada por ele em março contrariando pareceres técnicos. O documento pede que sejam ouvidas 13 testemunhas, entre elas o ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos e o empresário Mário Peixoto, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como sócio oculto das OSs.

O ex-juiz afirma que foi denunciado com base em delações “sem provas e que não houve uma investigação aprofundada”.
— O que fez o Ministério Público Federal, na pessoa de sua procuradora Lindora Araújo, foi apenas denunciar com base em delações sem provas, o que pela jurisprudência do STF não é admitido. Não houve qualquer investigação aprofundada, para não correr o risco de desmontar a farsa desta narrativa sobre mim. Vale dizer que há apenas um indício de que eu tenha recebido alguma vantagem, a escuta telefônica de Luiz Roberto da Unir, que curiosamente nunca foi ouvido e apesar de integrar extensa organização criminosa descoberta pelo MPRJ, está solto! Mesmo tendo sido apreendido mais de um milhão de reais em espécie na sua casa! Estranho! — se defende Witzel em contato com O GLOBO.

Fonte: Gabriela Goulart e Paulo Cappelli – R7